sexta-feira, janeiro 26, 2007

O Mundo desconhecido

De todas as coisas que já haviam sido ditas, de todas as histórias que havia ouvido, de tudo que já lhe havia acontecido, aquilo era, inexplicavelmente, uma das mais dolorosas sensações. Kátia ainda não se enxergava como mulher e exatamente por isso,vez por outro, agia como criança, como se quisesse afirmar para si mesmo que ainda era só uma menina.
Ela começava a entender que crescera porque pela primeira vez, a dor doía mais tempo do que alguns minutos. Quando a gente é criança, as dores não dóem por muito tempo. Você chora, esperneia, mas há sempre alguma outra brincadeira a esperar.
Mas acredite, quando as coisas parecem ficar mais doloridas, abra os braços e receba a vida adulta, porque os problemas já não são mais tão pequenos.
Crescer era muito mais do que poder sair sozinha, do que poder tomar conta da própria vida, crescer era acima de tudo, escolher quem ela queria ser.
O problema das escolhas é que quase sempre elas levam a caminhos completamente diferentes e Kátia percebera que todos os dias, todas as manhãs que abrisse os olhos, já começaria a maratona de escolhas.
Ela escolheria a roupa que vestiria para o trabalho, que trabalho priorizaria sobre a mesa abarrotada de papéis, escolheria se iria jantar com uma velha amiga ou matar a saudades do namorado, escolheria se queria viajar no final de semana ou se começaria as aulas de francês.
E isso tudo lhe metia medo. Um medo que entrava pelo nariz, junto à respiração e lhe percorria o corpo todo.
As vezes ela acordava de manhã achando ainda ser criança. Ela esperava a mãe acordá-la e imaginava que o uniforme da escola estaria pronto para ser vestido, mas de repente, ela se via sob sua própria responsabilidade.
E para Kátia doeu. Doeu crescer, doeu ver que mundo é assim tão doído, tão sujo, tão diferente do que ela imaginava ser.

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