quinta-feira, novembro 09, 2006

Glória

E quando Glória acordou já era tarde. Estava atrasada e ainda tinha que levar os filhos na escola, deixar o bilhete para a empregada com as devidas recomendações, preparar a merenda das crianças, esquentar o leite, colocar a mesa do café. Já eram quase 8 quando os olhos abriram involuntariamente de um sonho que a paralisara na profundidade de seu pensamentos de sono.
O mundo desabava numa só pessoa. As pessoas faziam fila na porta de sua casa com listas enormes de problemas que queriam resolver, coisas que somente Glória poderia fazer. Apesar da multidão do lado de fora, ela se desesperara e dizia bem alto ao marido.
- Eles estão enganados. Eu não posso. Eu não sei resolver nada, não consigo. Eu nem os conheço.
O marido não falava absolutamente nada, apenas balançava a cabeça num aceno negativo.
Abriu um pedaço da cortina e a rua em frente a seu jardim parecia cada vez mais cheia. Ela tinha medo e não tinha coragem de abrir nem uma fresta da janela pois não conseguia imaginar a reação das pessoas que esperavam ao saberem que a glória estava apenas no seu nome.
Respirou fundo.
Rebraram-lhe o vidro da janela com uma pedra. Isso já era demais.
Num impulso contínuo foi até a porta e abriu-a com agressividade.
- O que é vocês querem?
- Queremos que você resolva, respondeu uma senhora com os cabelos brancos e um coque.
- Quem é o primeiro da fila? - Disse ela de forma firme e irritada.
- Sou eu, respondeu a mesma senhora. Tenho forte dor nas costas e nas pernas. Não sei o que fazer.
- Aqui está, procure o Dortor Macedo neste endereço.
- Ah, obrigado. Não sabia que isso existia.
- Próximo, interrompeu-a
- Me sinto gorda
- Vá caminhar. Tem um parque bonito há três quarteirões daqui.
- Preciso de dinheiro
- Aqui está os classificados. Qual é sua formação? Procure uma vaga de emprego.
Uma a uma as pessoas foram partindo e ela conseguiu indicar o caminho da resolução para quase todos. Para alguns porém, ela dizia:
- Desculpe, não tenho a solução para isso.
E então ela acordou sedenta e tinha ainda muito o que resolver. Pensou que não podia, mas levantou-se vestiu-se com um vestido florido azul piscina e acordou as crianças.

Um comentário:

Sartorato disse...

Ah, não sabia que ce tinha ees arroubos de ditadora! =)